O celular chegou com tudo! Passou por cima de coisas que achávamos que ficaria um bom tempo fazendo parte da rotina de todos. Ficar sem celular hoje é algo insuportável. Sair para algum lugar sem ele é como estar despido; falta uma parte, dá aquela impressão de fragilidade... É claro que existe fragilidade. Viramos refém de algo útil, até certo ponto...
Nas escolas, professores disputam a atenção dos alunos com ele. Disputa injusta. Tentaram proibir o uso do celular nas aulas. O argumento dos alunos é que alguém pode ligar e que o celular ajuda nos estudos. Mas, existe uma geração que frequentou a escola sem celular, quando acontecia uma emergência, alguém da secretaria vinha avisar, também não tinha a ajuda do celular nos estudos, isso produzia um mutirão de estudantes nas portas das bibliotecas; todos em busca de pesquisar um pouco mais sobre o que foi dito na sala de aula.
O tempo muda. Dizem que estamos “evoluindo.” Ir fazer uma pesquisa numa biblioteca é algo antigo. Virou passado. As bibliotecas estão fechando. As pessoas estão ficando sem diálogos e as crianças sem aquela alegria de outrora. Tudo virou passado. Ficou antiquado dizer que vai à biblioteca fazer uma pesquisa. Não falta muito para alguém dizer que as rodas de conversas é algo do século passado.
Na “evolução” em que vivemos, deixamos de lado a sensibilidade e o respeito para com o próximo. O que vale é registrar o momento e compartilhar com milhares de pessoas. Pouco importa a dor do outro; o que vale é o momento da foto ou do vídeo. A unanimidade de poder estar presente naquele acontecimento, seja num show... seja numa tragédia. O que vale é o momento.
Estamos numa ladeira, tentando segurar um pneu chamado evolução, porém de evolução não tem nada. Receber e compartilhar vídeos e fotos de crianças ensanguentadas já não assusta mais... As pessoas assistem com a mesma frieza de quem filmou. E pensar que um dia, ficamos preocupados com as cenas forte de um filme transmitido na TV “fora do horário.” A faixa etária é uma piada, uma vez que crianças com o celular nas mãos, com o mundo nas mãos, é cada vez mais comum.
Estamos “evoluindo.” Na ladeira, já podemos ver vários pneus vindo de encontro aos poucos, que ainda acham, que precisamos de mais um século, para de fato, evoluirmos.