Parece estranho ficar tanto tempo em casa, principalmente num dia de semana. Parece que estamos em outro lugar, embora seja nossa própria casa. Será nossa própria casa?
Revirando o armário, encontrei ferramentas que nem lembrava mais que existia. Também não lembro como veio parar ali. Comprei ou ganhei? Difícil dizer.
Já tinha um tempo que precisava fazer uma geral no guarda-roupa, doar as roupas que nunca uso. Tirei todas as calças de lá de dentro, acabei encontrando uma nota de cinquenta reais no bolso de uma delas. Como veio parar ali? Não lembro. Rapidamente, me concentrei em tentar lembrar se não tinha esquecido de pagar alguma fatura. Não encontrei nenhuma em atraso. Ainda bem.
Na gaveta, encontrei um jogo antigo. Brinquei muito quando era adolescente.
— Que tal jogarmos banco imobiliário? — fiz a proposta para minha esposa.
Nenhum de nós lembrávamos como jogava. O jogo ficou ali, esquecido durante muito tempo. Os jogos online substituíram ele com muita facilidade.
No fim do quinto dia em casa, quando o sol já estava indo embora, colocamos duas cadeiras na varanda e ficamos conversando sobre o passado e o futuro. Descobrimos que já fazia um tempo que não sentávamos para conversar. Descobrimos que podemos ser ótimos estrategistas com relação aos planos para o futuro. Parece estranho, mas antes de ficarmos em casa, não sabíamos de nada disso.
Quantas pessoas estão se redescobrindo agora, nesse exato momento, enquanto escrevo e você lê o texto? Quantas ferramentas estão perdidas por aí, esperando para serem usadas? Quantas roupas podem serem doadas para alguém? Quantas notas de cinquenta reais estão esquecidas dentro de algum bolso, pronta para ser usada na compra de alguma coisa? Quantos vezes podemos colocar as cadeiras na varanda e conversar mais um pouco com a pessoa que divide o mesmo teto que nós?
Talvez ficar em casa seja isso mesmo; talvez seja a chance para redescobrir e reencontrar certas coisas, que estavam perdidas por tempo demais.
Obrigado pela companhia :)
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Até breve,