Saiu de casa sem pressa. Tinha certeza que encontraria no supermercado aquele doce maravilhoso que estava procurando. Entrou no supermercado e foi direto para o corredor de doces. Não encontrou. Depois de uma busca minuciosa pelas prateleiras, resolveu perguntar para um dos funcionários:
— Não tem ovo de chocolate?
— Não. Não é época — o funcionário respondeu surpreso, considerou a pergunta da mulher absurda, já que o ano estava quase acabando e ela queria ovo de Páscoa.
A mulher saiu do supermercado e partiu para o outro. Quem sabe lá teria mais sorte. Não teve. Nada de ovo de chocolate.
— Não é época — também dissera o funcionário.
A mulher não entendia. Certa vez leu uma frase dizendo que a Páscoa era todos os dias. Sim, deve ser todos os dias, mas existem um monte de fatos que contradizem a frase. A começar pelo ovo de chocolate, encontrado apenas na época da Páscoa. Ainda sem desistir, a mulher fez mais uma tentativa em outro supermercado. Nada. Ficou furiosa.
— Que droga, só quero um ovo de chocolate, nem precisa ser de Páscoa!
Não achou o ovo. O ovo que a mulher procurava só era encontrado na época da Páscoa. Dias depois, some das prateleiras. As pessoas também, nem procuram mais por ovos de chocolate. Para o comércio, não compensa continuar vendendo algo que ninguém mais quer comprar.
— Não é época.
O peixe é a mesma coisa. Conheço um monte de gente que só come peixe na quaresma. Provavelmente, semana que vem, o peixe vai ocupar um lugar bem escondido dentro dos supermercados.
Vivemos de símbolos. Pagamos por símbolos sem nem saber o real significado deles. E quando decidimos não alimentar os símbolos, reviramos a cidade toda, assim como a mulher fez, e não encontramos algo que deveria sempre fazer parte da nossa vida.
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